O Guia Lopes

José Francisco Lopes, o Guia Lopes, herói do Exército brasileiro, nasceu em Minas Gerais em 26 de fevereiro de 1811, na cidade de São Roque de Minas, quando esta era ainda um distrito da cidade de Piumhi. Tudo indica que o local do nascimento foi a atual fazenda Tamancas, a 6 km do centro de São Roque de Minas. Na juventude, Lopes mudou-se com a família para Mato Grosso do Sul, próximo à divisa com o Paraguai. Na Fazenda Jardim, dedicou-se à criação de gado e tornou-se profundo conhecedor da região que seria cenário de um dos mais trágicos episódios da Guerra do Paraguai: a Retirada da Laguna, na qual morreram quase mil soldados brasileiros.  Ao lado está a reprodução de uma de suas raras fotos, esta tirada um ano antes do início da Guerra do Paraguai (1864-1870), quando tinha então 54 anos de idade.  

 

Segundo registros do Exército, assim que eclodiu a guerra, em 1864, a esposa e os 4 filhos de José Francisco Lopes foram presos e levados para o Paraguai, depois de uma das invasões do território brasileiro pelas tropas de Solano Lopes. Foi esse um dos motivos para o aparecimento do Guia Lopes: ele alistou-se voluntariamente no Exército brasileiro para guiar as tropas que iniciavam uma ofensiva em território paraguaio. José Francisco Lopes sonhava resgatar a família, mas a ofensiva revelou-se um fracasso. As tropas brasileiras tiveram de recuar fustigadas pelos paraguaios na retaguarda. A atuação do guia Lopes foi decisiva para evitar uma tragédia ainda maior. 

Ele não só guiou os soldados brasileiros, muitas vezes despistando o inimigo num terreno difícil, como cedeu todo o gado da família para alimentá-los na retirada. A tropa foi atingida pelo cólera e o próprio Lopes ficou doente. Segundo o Exército, ele teve um comportamento heróico até o último dia de vida. Agonizante, ainda guiava a marcha. E para aqueles que lhe diziam para poupar-se, ele respondia que ninguém podia contrariar a vontade de Deus. "Saibamos morrer; os sobreviventes dirão o que fizemos", disse ele. Seus feitos encontram-se narrado no livro A Retirada da Laguna do Visconde de Taunay e Vultos e Fatos de Nossa História do General João Pereira de Oliveira.

José Francisco Lopes morreu às margens do rio Miranda. Seu nome foi incorporado ao da cidade de Laguna, um dos principais cenários da retirada, rebatizada como Guia Lopes da Laguna (Mato Grosso do Sul). Seus restos estão sepultados em sua antiga fazenda, a Jardim, hoje na cidade de Guia Lopes da Laguna.

O exército brasileiro o reverencia através de vários monumentos fincados no solo da pátria.

O distrito de São Roque, onde o herói nasceu, adotou o nome de Guia Lopes ao se tornar independente, em 1938. Mas em 1962, através de um plebiscito, os moradores decidiram voltar ao nome antigo e a cidade passou a ser São Roque de Minas. São poucas as referências ao Guia Lopes na cidade. Uma delas é o "Altar da Pátria", monumento instalado em frente à igreja Matriz em 1967, marco do centenário da Retirada da Laguna. Na época, em homenagem patrocinada pelo Exército, passou pela cidade um fogo simbólico que percorreu todo o trajeto das tropas guiadas por Lopes. O Guia Lopes também é nome de rua, pousada e da escola municipal de primeiro grau.

 

Laguna: Consagração do Herói

 

Foi por sua providencial e decisiva participação num dos mais dramáticos episódios da Guerra do Paraguai, em 1867, que José Francisco Lopes (1811-1867) entrou para a galeria dos heróis cultuados pelo Exército Brasileiro, e conquistou seu lugar nas páginas da história do Brasil.

Cronologia da atuação do Guia Lopes. O ano é 1867.

1º de janeiro - Nomeado pelo governo do Mato Grosso, o coronel Carlos de Morais Camisão assume o comando das forças que deveriam atuar sobre o Alto Paraguai;

24 de janeiro - A tropa chega à vila de Nioac e José Francisco Lopes oferece-se para acompanhá-la como guia. É aceito e logo ganha a confiança do coronel Camisão, tornando-se seu conselheiro;

25 de fevereiro - A força marcha sobre a fronteira paraguaia. Forma-se o Conselho de Guerra;

25 de março - O Guia Lopes, em companhia de um grupo de índios Terenas e Guaicurus parte em missão de reconhecimento do terreno. No retorno desta expedição recebe o notícia de que seu filho havia escapado dos paraguaios e viera juntar-se às tropas, após dois anos de cativeiro. O reencontro de pai e filho emociona a todos;

19 de abril - A tropa brasileira tem o primeiro choque com os paraguaios, coloca-os em fuga e vai acampar às margens do rio Apa, na fronteira;

20 de abril - Os brasileiros tomam a fazenda Machorra, propriedade que o ditador Solano Lopez mantinha em terras brasileiras;

21 de abril - Os inimigos recuam, os brasileiros cruzam a fronteira e tomam o Forte de Bela Vista. Há uma troca de mensagens entre os dois exércitos. Os paraguaios referem-se ao coronel Camisão como Crânio Pelado;

1º de maio - Os brasileiros entram na fazenda Laguna, propriedade também pertencente a Solano Lopez, que havia sido incendiada e abandonada pelos paraguaios;

4 de maio - Começam a faltar alimentos para os soldados. O mascate italiano Miguel Arcanjo Saraco chega ao acampamento conduzindo duas carretas de víveres que são insuficientes. Os brasileiros, apesar disto forçam e tomam um acampamento paraguaio, mas sofrem baixas consideráveis;

8 de maio - Acirram-se os combates e crescem as dificuldades. A coluna começa a recuar sobre o rio Apa, já em retirada. É completamente envolvida pelos inimigos.

11 de maio - O filho de Lopes é ferido;

13 de maio - Os choques ficam cada vez mais violentos e incêndios na vegetação põe em risco a vida da tropa que recua;

18 de maio - Chove torrencialmente. Os soldados comem a carne dos cachorros da tropa. Estão maltrapilhos e debilitados. Arrastam-se pelo solo alagadiço sob tiroteio cerrado. Um boi é devorado cru pelos soldados. Novo drama: surge uma epidemia de cólera;

21 de maio - Meia légua apenas fora vencida desde o dia 19. Agora começa a faltar água.

22 de maio - O coronel Camisão envia mensagem à Nioac e pede ajuda;

22 de maio - Chuva pesada. Mais soldados morrem da peste. O frio fustiga. À noite, passado o temporal, a tropa se alimenta de palmitos colhidos pelo Guia Lopes;

25 de maio - A peste mata mais vinte. Diante do estado de fadiga da tropa e da impossibilidade de transportar os enfermos, o coronel dá a ordem de abandoná-los em uma clareira. "Compaixão para com os coléricos" - pedia o cartaz deixado pelos brasileiros junto aos que ficaram;

26 de maio - De cólera morre o filho de Lopes. A fazenda Jardim estava próxima. O Guia e o comandante também são contaminados pela doença;

27 de maio - A tropa entra em terreno seguro, a Jardim, propriedade de Lopes que morre a meia légua de sua casa. É enterrado às margens do rio Miranda. A expedição ou o que restava dela, estava salva.

 

MISSÃO CULTURAL LAGUNA

 

A Missão Cultural Laguna é um grupo de pesquisa histórica criado pelo governo municipal de Piumhi - MG, através de uma portaria nº 005/2001, para cumprir uma tarefa de resgate histórico da figura de José Francisco Lopes, o piumhiense que entrou para as páginas da história do Brasil como Guia Lopes, um herói nacional. Durante três dias uma expedição piumhiense que reuniu representantes de diversos setores da comunidade piumhiense, percorreu a região do Apa, zona fronteiriça do Paraguai, no Mato Grosso do Sul, palco da célebre Retirada da Laguna.

A ação instituída oficialmente como Missão Cultural Laguna objetivou recompor os passos de Guia Lopes numa das passagens mais emocionantes e dramáticas da Guerra do Paraguai e que levaria o sertanista piumhiense ao posto de herói nacional. Uma tarefa cansativa tanto pela exaustão da viagem, quanto pelo ritmo das atividades às quais o grupo se propôs, mas, no final das contas um saldo altamente positivo, na opinião de todos os participantes da empreitada.

Um considerável número de informações, imagens e documentos, foi colhido, e agora incorporado ao Acervo Guia Lopes, embrião do futuro Memorial que se pretende instalar em homenagem ao piumhiense que figura na galeria dos grandes heróis nacionais.